segunda-feira, 13 de julho de 2009

A Índia que não se vê na TV.

Isabela Diefenthäler Oliveira

Acabei de assistir o tão comentado “Quem quer ser um milionário” (Slumdog Millionaire). Fiquei bastante impressionada com a produção do filme, que por sinal, recebeu uma série de premiações.

A história, que mistura a dura vida dos habitantes da periferia de Mumbai com as aspirações cheias de esperança da nova Índia, tem como protagonistas astros completamente desconhecidos do público ocidental e apenas um famoso em sua terra natal.

O jovem indiano muçulmano Jamal se inscreve num programa de perguntas na TV para ganhar 10 milhões de rúpias. Ao longo do programa, o espectador descobre mais sobre a vida de Jamal, sua infância pobre nas favelas de Mumbai (antiga Bombai) junto a seu irmão Salim e a amiga Latika. E o que se vê é mais do que simplesmente uma retrospectiva da vida de Jamal: é a história de uma comunidade inteira, é a regeneração dela através da própria regeneração de Jamal! É o amadurecimento da alma desse rapaz tão profundo, um sobrevivente que realmente sabe as respostas. Aliás, guarde essa frase: ele sabe as respostas.
A cada pergunta feita a ele, Jamal vai buscar a resposta na sua jornada, como um herói das narrativas mais antigas do mundo. Tudo o que ele viveu no passado se transforma em algum tipo de conhecimento ao qual ele atribui significado no momento presente, acionado pelas perguntas do programa e decifrado pelo seu depoimento na delegacia de polícia. Na sua imensa e intensa necessidade de apreender todo e qualquer conhecimento à sua volta, Jamal aguça sua percepção ao longo de sua jovem vida, a princípio para fugir da morte e viver mais um dia. Porém, naquele momento em que está no programa, juntando tudo o que aprendeu, Jamal está no limiar do próximo passo lógico de sua existência: sua regeneração e individuação. E a partir daí começará a realmente viver e usufruir dos frutos de sua coragem, sinceridade e obstinação.

O que achei muito interessante é que o filme mostra uma Índia desconhecida por muitos de nós. Com problemas sociais gravíssimos que na maioria das vezes não são mostrados na novela das 8, onde tudo é bonito, rico e cheio de cores. A Índia mostrada no filme é seca, cinza, cruel. Achei muito marcante no inicio do filme o terror vivido pelos pequenos indianos que eram manipulados por “empresários” para conseguir dinheiro, como marginais. Algo semelhante com o que muitas vezes podemos presenciar no Brasil. Enfim, o filme é muito interessante. Vale a pena ser visto.

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