domingo, 15 de novembro de 2009

Consciência Negra e o Besouro Mangangá.

Isabela Diefenthäler Oliveira

Besouro – Da capoeira nasce um herói
Mesmo depois de dez anos da abolição dos escravos (1888) muitos negros ainda não sabiam se essa libertação havia, de fato, sido boa para eles. A maioria dos escravos não tinha preparo para trabalhar em outros serviços e muitos ainda se submetiam aos abusos impostos pelos senhores de engenho e coronéis.
Em um cenário cheio de lutas, vilipêndios e discriminações é que nasce Manoel Henrique Pereira, o Besouro, um capoeirista brilhante.
Depois da morte de seu mestre pelos capangas do Coronel, percebeu que seus dons deveriam ser usados para proteger seu povo, que estava acuado e oprimido.
Com a influência do espírito de seu mestre, ele se harmoniza com os orixás e com a natureza e vai descobrindo seus poderes mágicos, que o transformam em herói de seu povo.
O Besouro tinha um talento espetacular, foi apelidado de Besouro Mangangá, uma espécie que é conhecido por sua dolorosa ferroada. Durante o filme, é possível observar a destreza com que ele conduz seus passos de capoeira e foge dos senhores que querem sua morte.
Besouro tornou-se um mito, um símbolo da luta pelo reconhecimento da cultura negra no Brasil, e com certeza deve ser lembrado até hoje. Em uma época cheia de ódio e preconceitos, Besouro teve a percepção da importância de lutarmos por nossos ideais de igualdade, solidariedade e respeito.
Cerca de uma semana antes do dia da consciência negra, creio que esse é um bom filme para reflexão de valores e idéias. Principalmente de nosso papel enquanto cidadãos livres e com autonomia para construir um mundo melhor para as próximas gerações.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Che, o filme, é uma excelente maneira de discutir política.

Victor Zacharias

Na semana passada fui assistir ao filme CHE, o de número 2, que mostra os momentos finais da vida deste revolucionário.
O filme começa diferente, quero dizer que logo na primeira olhada dá para notar, pois não tem a estética apresentada pelos filmes de "Hollywood" e que representam o que significamos como: "glamour".
Você não verá um Rambo em uma selva maquiada, mas a luta de Che, em uma selva bem mais real, pela obstinada libertação do povo boliviano que sofria com a tirania militar.
Seu firme propósito não é abalado por nenhum acontecimento nem mesmo pela morte de companheiros.
Dá para perceber que a vida dos revolucionários não é gostosa, tranquila e cheia de mulheres, mas é extremamente difícil, por isso é para poucos, eu diria raros.
Revolução não é coisa feita por gente pobre e sem cultura, no filme Che recebe cartas de muitos que estão preocupados como os povos que não podem ter justiça e que sofrem pela concentração de poder na mãos de poucos, Che era apoiado financeiramente por conhecidos pensadores até da Europa.
A ética e respeito ao ser humano são surpreendentes. No começo da história Che faz um discurso para os companheiros que iriam iniciar a jornada e lhes prometeu uma vida muito dura, isto é, Che trabalhou com a verdade e, ao contrário da propaganda, anunciou ao grupo que poderia ficar pior.
Os EUA com força econômica e militar interferiu à favor dos EUA.
Em uma país extremamente pobre Che busca o apoio do povo, mas a violência militar dos ditadores destrói qualquer fidelidade do povo à causa. Resultado foi que a traição do povo e dos militantes torturados acaba com o grupo, que é exterminado em uma emboscada feita por um exército muito superior em armas, apoio (aviões, canhões, etc) e ainda contava com a experiência dos combatentes americanos do Vietnã.
Mesmo com suas crises de asma, Che foi até o fim, sendo julgado com frieza e assassinado no acampamento militar.
A história todos já sabiam, creio eu, mas é um filme para ver, discutir e pensar: Será que existem diferenças entre as revoluções de ontem e as de hoje?

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Estoque humano de órgãos e a decisão de morrer.

Victor Zacharias


O filme Uma prova de amor ou My sister's keeper é uma adaptação do livro da escritora americana Jodi Picoult que como toda adaptação cinematográfica é diferente do livro. Ela, como também declarou Paulo Coelho, cujo livro Veronika decide se matar foi base de um filme, se desculpou com leitores por não ter tido influência no filme, no roteiro e nem na escolha de artistas.
É mais um filme que discute a morte ou a autonomia do ser humano que sofre e, nesta imensa discussão, cabem todos os sofrimentos desde o físico até o da alma.
A família tinha 3 filhos, a menina Kate, a do meio tinha câncer. Numa consulta médica, a mãe desesperada pede ao doutor uma solução e fora da ética médica, característica que vemos em outros filmes, o oncologista comenta que com técnicas genéticas é possível conceber um bebê que possa ser um doador de órgãos compatível com as necessidades da irmã. Traduzindo o novo bebê seria um estoque pessoal de órgãos feito exclusivamente para suprir a irmã doente.
A diferença é que neste campo temos várias regras morais e éticas na cultura ocidental que nos impedem de brincarmos de sermos Deus.
A irmã Anna é concebida e o plano de tê-la como estoque é mantido.
Até a família que estava distante e que de ideal de família não tinha nada, se unia para discutir o assunto. Tudo girava em torno da menina doente
Quem sente mais o isolamento é o filho do casal que tem dislexia e que não recebe o mesmo amor dos pais. O sofrimento corporal é mais compreendido e valorizado do que o da alma.
Um dia aparentemente cansada de ser usada desde bebê como estoque de órgãos da irmã, a menina de 11 anos vai ao advogado, o mais famoso da cidade que nos seus anúncios diz ganhar 91% dos casos.
Eu precisava de um desses.
E neste doutor da lei expõe seu caso em detalhes e com provas. O advogado entra com uma ação contra os pais para dar poderes a menina sobre o uso dos órgãos de seu próprio corpo.
Nesse momento lembrei do Estatuto da Criança e do Adolescente que faz da criança um ser humano portador de direitos.
A autora no livro coloca na obra que a curiosidade da menina não era saber como os bebês eram feitos, até por que esta mecânica o irmão mais ou menos explicou, mas porque vinham. Em um pequeno trecho do livro ela diz que se alienígenas chegassem ao mundo e quisessem entender a razão porque os bebês nasciam chegariam a conclusões nada nobres, como foi por acidente, nenhum método é 100% seguro ou estava bêbada.
A mãe Sara recebe a ação com indignação e mesmo contra a opinião do marido vai se defender no tribunal, cuja juíza tinha perdido sua filha de 11 anos atropelada por um motorista bêbado. O grau de envolvimento emocional do magistrado poderia sofrer ação de nulidade.
No final desta história a Kate não aguentava tanto sofrimento e queria ter alívio na morte, apesar da obstinação da mãe que a certo ponto do filme corta todo o cabelo para estimular a filha, que se achava feia, a dar um passeio.
E aí ficam colocados assuntos para discutir como a decisão de determinar o dia da própria morte, ou o quanto os novos métodos genéticos podem interferir na ética e na moral da civilização ocidental, ou a ética dos médicos que, mesmo americanos, são cheios de jeitinhos, e finalmente descobrir qual o grau de prazer que é mínimo para a vida valer a pena.
Lembre-se que todo filme ou comunicação é sempre construído e acaba sendo uma maneira de propostas de estilos de vida.
Assista o filme, vale a pena, mas leve uma caixa de lenços para chorar, eu derramei umas lágrimas escondidas, é claro, homem não chora...pouco.
Neste filme por exemplo daria para ficar escrevendo muito mais, mas em blogs, diz a lenda, os textos devem ser pequenos (risos).

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Despedida de solteiro quase acaba mal.

Victor Zacharias

Se beber, não case.
O título original é "Hangover" que quer dizer ressaca.
Uma comédia com tudo que se diz sobre os ritos de um pré casamento e com muita malícia.
Um cara vai casar e os melhores amigos e seu genro resolvem viajar juntos para fazer a tal da despedida de solteiro em Las Vegas.
Na turma tem personalidades contrárias para que pintem os contrates que provocarão risos.
O noivo é aquele que quer manter o grupo unido, o amigo casado, é o bonitão, gosta de uma farra e de levar vantagem, o amigo submisso é o que vai casar com um mulher mandona, cá entre nós: quem é que agüenta, e o amigo genro que tem um parafuso a menos e barriga a mais. Pronto tá feita a comédia.
Ao chegar em Las Vegas, um cidade no deserto americano voltada para o jogo, eles seguem direto para um super hotel chamado Ceasar que reproduz Roma no detalhes. Na portaria pedem o melhor quarto e tudo fica no cartão do submisso para acertarem depois. Tem certos caras da turma que acabam sempre pagando a conta. Você conhece algum?
Do início da farra, um brinde, o filme vai para o fim da festança, mas o noivo somiu e os três não lembram nada do que aconteceu.
Este é o problema a ser resolvido no filme, encontrar o noivo a tempo para que o casamento aconteça.
O filme reforça comportamentos machistas, pois o homem foi farrear no seu último dia de solteiro, enquanto a mulher espera pacientemente o noivinho para se casar e parece que é assim de geração a geração, porque o sogro diz que tudo que acontecer em Las Vegas será esquecido. Parece que tudo é lembrado para que o costume não se perca. Vendo o filme as mulheres podem achar isso normal e aceitar este jogo.
O filme é uma propaganda de Las Vegas, do jogo, do comércio sexual e das drogas.
Muitas cenas com piadas nada inocentes e com apelo sexual me deixou surpreso porque a classificação do filme era livre, ao final do filme eu vi uma menina de uns 5 anos, que não deve ter entendido nada e acabou dormindo. Porém muitas crianças não dormiram. Sem querer ser moralista fico com a certeza que a mídia, incluído o cinema, tem despertado uma erotização precoce nas crianças.
No filme eles roubam carros da polícia, dão muitas trombadas, subornam o médico, perdem o dente, acham um bebê, levam tiros de crianças de armas e não faltaram as brigas, uma violência básica, e numa dessas horas aparece o rei da violência o lutador Mike Tyson (fora de forma). Tyson não gosta de nada que o grupo faz e só fica alegre quando fica sabendo que eles roubaram o carro da polícia.
Curiosidade: o artista que fica sem um dente o perdeu quando era criança e para o filme foi só tirar o implante.
Outro comportamento repetitivo é que os homens ao falarem com suas mulheres mentiam o tempo todo, isso quer dizer que os homens são mentirosos. Será que só os homens?
O filme é um sucesso na terrinha do Obama, dá para rir mas não levem as crianças por motivos óbvios.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Na sociedade você tem que se sentir sempre feliz, caso contrário é um perdedor.

Victor Zacharias

Aqueles que se matam não estão querendo morrer e sim uma nova vida.
É assim com Veronika sempre com crises de depressão e os médicos sempre traziam-na dos seus surtos e tudo voltava a ser como antes. Médicos são formados para colocarem o paciente de novo no mundo da busca a felicidade que está nos produtos dos shoppings. Você é obrigado a ser feliz assim: consumindo.
Pronto está posto o problema do filme, fazer Veronika encontrar algo na vida que faça o ato de viver valer a pena.
Intrigante, a mulher é bonita, inteligente, jovem, tem um bom emprego, bons pais, mas não vê sentido nesta fantasia de viver.
O ritual desta vida em sociedade é muito chato e não tem muito sentido. Nascer, crescer, estudar, ter emprego, casar, ter filhos, ser traída, não é nada novo, nunca muda. Este roteiro já é conhecido e não tem graça, tudo muito superficial, pensava Veronika então um dia ela resolve se matar, apesar de tomar uma tonelada das mais variadas pílulas não morre, mesmo sem querer tem uma segunda chance.
Acorda em uma clínica psiquiátrica particular.
Aos poucos vai se adequando aquele mundo a partir da lenda de sua companheira de quarto. Havia um rei e uma rainha que tinham no seu reino um lago e todos que bebiam daquela água ficavam loucos, até que muitos beberam e os reis não aguentavam mais governar pois todos eram doidinhos, para suportar acabaram tomando da água e tudo ficou bem novamente. Um louco é alguém que não compartilha do seu jeito de pensar.
Na tentativa Veronika danificou seu coração, diz o analista e pode, a qualquer hora, morrer. Vive com a chance de morrer bem presente. Na clínica Veronika pouco fala até que o psicanalista chama seus pais. Isto sim era um choque e a fez falar. Os pais não a entendem e nem ela a eles. Ela recusa tudo que eles construíram nela, nada do que eles fizeram considera bom.
Ao tocar piano, Veronika começa a se reconciliar com a vida. Era algo que fazia na infância, uma época gostosa de viver.
Ela finalmente encontra outro desajustado e juntos fogem da clínica, mas Veronika sempre com a chance de morrer bem próxima.
Solução: Ela encontra o sentido no amor que sente pelo outro. Não nas coisas que possuía ou no emprego que tinha, mas no amor do outro.
O filme tem ensaios para discutir o sentido da vida, mas cai na vala comum do romance, propondo que o sentido da vida é amar "eros" alguém que encontrou em um lugar incomum para ambos.
Também leva a crer que no lugar mais estranho pode-se encontrar um amor que dará sentido a vida. Reforça a cultura existente.
Poderia ser um grande filme, com propostas mais audaciosas, mas parece não ter lastro para isso. Enfim sugere questões para serem discutidas durante o cafézinho depois do cinema como por exemplo: Será que a vida é só consumir? Somos escravos de um sistema que nos padroniza desde a beleza até a felicidade? O que você acha?

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Você já levou uma picada de abelha? Eu já!

Isabela Diefenthäler Oliveira

Era uma sexta a tarde e eu estava andando pelas ruas pensando em como passar uma tarde agradável no meu “day off”. Quando eu vi o cartaz do filme, achei tão bonitinho, que não resisti e logo fui comprar meu ingresso.
A Vida Secreta das Abelhas é um filme muito emocionante. Chorei do começo ao fim. E pude notar que ou demais espectadores também não puderam controlar suas lágrimas.
O elenco é ótimo, Alicia Keys, Queen Latifah (adoro ela), Dakota Fanning e outros que não lembro o nome.
A história é de uma menina que aos quatro anos mata a mãe por acidente, triste não?!
Mas isso não é o principal, a história se passa dez anos depois desse episódio, quando a menina, já na adolescência começa a descobrir a arte de se relacionar com as pessoas ao seu redor. Apesar de não falar deles abertamente, o filme retrata muitos valores importantes.
Em um lar distante do seu Lily encontra o amor que muitas vezes lhe faltou em casa, e através das pessoas que a cercam acaba se deparando com o passado de sua falecida mãe e aprende um pouco sobre o fabuloso mundo das abelhas.
É um filme envolvente com certeza. E gostoso de se ver, posso dizer que fiquei tentada a conhecer mais sobre as abelhas. Lembro que quando estava no colégio sempre aprendíamos a falar sobre divisão do trabalho em comunidade através dos exemplos das abelhas...animalzinho interessante esse. Seria muito bom se aprendêssemos mais com ele, vai uma picadinha de abelha hoje?!

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Do mito da fidelidade no casamento até a pedofilia consentida.

Victor Zacharias

O diretor de Cheiro de Ralo, filme que não assisti, é o mesmo que fez este filme À deriva.
O roteiro basicamente mostra as contradições de uma família e a influência que o casal tem na vida da protagonista uma adolescente de 14 anos, a mais velha dos três filhos do casal.
Toda a ação acontece em Búzios lugar que só é identificado por quem conhece ou lê sobre o filme, caso contrário é uma casa numa linda praia.
Uma novidade interessante é que a protagonista foi escolhida pela rede social Orkut, quem sabe você também tenha chance de estrelar um filme participando de uma rede social.
Toda a comunicação e podemos incluir o cinema neste universo, é composta de mensagens construídas, com autor, finalidade e forma. Hoje a comunicação é a cultura que nos é mostrada dia a dia pelos meios de comunicação disponíveis a todos o dia inteiro, nisso está a televisão, rádio, revista, jornal, computador, música e também o cinema. Logo existem nos filmes construções de propostas para estilos de vida e consequentemente modelos para ações e atitudes na vida real de quem está assistindo, eu e você por exemplo.
Neste caso me chamou atenção a hipocrisia que é vivida na família, o mito da fidelidade e a projeção que pai e mãe fazem na vida dos filhos, mas que os introduz no mundo da falsidade. O mundo adulterado ou seja adulto. Lembrei que as projeções da vida perfeita, isto é, o amor civilizado, nos filhos, Freud chama de ideal do EU.
O casal vive uma harmonia de faz de conta na frente dos filhos, mas como a relação estava na fase terminal as brigas começam a evidenciar o problema do juramento "até que a morte os separe".
A filha adolescente tenta fazer várias leituras do que está acontecendo, chega a julgar o pai, a amante do pai, mas nunca a mãe (alcoólatra pelo sofrimento) que permanece santificada, como ela dentro do ideal do EU, seria.
A filme além de mostrar este lado da vida familiar coloca a discussão do amor e do sexo, o mundo apresentado foi o de que todos os homens são predadores sexuais e não importa a idade da fêmea sempre querem satisfazer seus instintos.
A passagem para o mundo adulto acaba acontecendo com a menina de 14 anos, uma menor e incapaz legalmente*, mas o fato é amenizado pois o seu iniciador era o ator Cauã que está dentro dos padrões ideais de beleza física masculina e pela aparente decisão (?) da menina alcoolizada.
Nesta proposta do filme fica a questão do que é pedofilia?
Se o homem a manter relação com ela não fosse este escolhido a dedo será que a platéia reagiria da mesma forma, achando que tudo foi "normal'" ?
Como lidar com os prazeres propostos pelos meios de comunicação ou pela cultura e o dever da fidelidade?
O que ensinar para os filhos sobre a família? Será que eles não percebem a fantasia que vivem os pais?
Acho que são questões que o filme levanta. Vale a pena assistir se a discussão nos fizer refletir a respeito.
*Pessoas menores de 14 anos ou que, por qualquer motivo, não podem oferecer resistência, são caracterizadas como vulneráveis, e o crime de estupro contra estas tem pena maior, que vai de oito a 15 anos.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

O ponto fraco da mulher é um shopping?

Isabela Diefenthäler Oliveira

Aos 25 anos, Rebecca Bloomwood, consegue um emprego trabalhando como jornalista econômica em Nova York. Ela mora com a melhor amiga, Suze, e tem compulsão por comprar, tanto que seu salário nunca é suficiente no fim do mês. Enquanto ela se esforça para conseguir pagar suas dívidas, acaba atraindo a atenção de um colega de redação. E que colega!
Os Delírios de Consumo de Becky Bloom é um filme muito simpático. Um pouco diferente do livro, o filme que é bem água com açúcar, agrada principalmente o público feminino (mas não é unânime). Ele mostra uma realidade (até triste) de uma moça com problemas serissimos com o consumismo e o amor por roupas e acessórios. Com seu figurino produzido por Patricia Field, (a mesma de “O Diabo Veste Prada”), o filme exibe um repertório vasto de grandes marcas como Christian Louboutin, Balenciaga e Marc Jacobs.
É claro que é um tanto exagerado, mas é possível se identificar em muitos momentos com ele. Com o desenrolar da história o filme parece um tanto quanto clichê, pois aborda inúmeros elementos repetidos em filmes do gênero. Apesar da ser previsível, o filme tem ótimos momentos para quem procura diversão e boas risadas. Eu gostei do filme, no entanto, reconheço que é preciso ser um tanto desencanada e consumista para gostar dele.

sábado, 25 de julho de 2009

Bandido e machista, mas com princípios éticos.

Victor Zacharias

Inimigo Público, é um filme de gangsters que mostra a espetacularização realizada pela mídia para os assaltantes "heróis" desde aquela época.
O ator Johnny Deep faz o papel de John Dillinger chefe de uma quadrilha cuja especialidade era assaltar bancos, mas não roubava os clientes e à Robin Hood ficava popular, afinal ele respeitava mais o dinheiro dos clientes do que os bancos.
Audacioso, Dillinger, quando estava sendo caçado,
chegou a visitar o escritório do FBI e não foi notado, inclusive pergunta aos políciais qual era o resultado do jogo, se fosse aqui no Brasil, provavelmente a polícia seria desqualificada, mas é assim no mundo.
No filme a polícia abusava da violência pessoal e invadia a privacidade grampeando ligações telefônicas, mas mesmo assim era constantemente ludibriada pelo assaltante o qual só era encontrado a custa de delação por tortura ou ameaças de uso da lei em caso de não existir colaboração. Isso era nos anos 30, mas já evoluímos. Evoluímos?
Não me lembro de ter visto a polícia uma só vez levar um mandado judicial para alguma intervenção, agia com dava na telha arrombando portas, entrando nos lugares e torturando quem queria. Parece que não mudou muito, ou mudou?
Assaltantes bem armados metralhavam tudo que viam, mas acertar mesmo quase nunca acontecia, parece a gripe suína muito alarde e pouquíssimas vítimas.
A platéia do cinema se manifestava quando os assaltantes diziam que iriam fazer o último roubo e viriam curtir os prazeres que o dinheiro proporcionaria em um lugar distante, um paraíso como Cuba - praia de Varadero ou Venezuela - Caracas ou Brasil - Rio de Janeiro. O zum zum zum da platéia tem sua razão de ser afinal hoje estamos mergulhados nas notícias dos escândalos do senado, do bandido empresário Daniel Dantas, etc, mesmo sendo um filme dos anos 30 a questão tempo é abolida, então entende-se que os bandidos já vinham para cá para viverem entre seus pares desfrutando da impunidade reservada aos ricos e poderosos.
No meio de tudo isso, como um produto na prateleira, Johnny escolhe uma namorada Billie Frechette feita pela atriz Marion Cotillard e a seduz com lugares "chics" e roupas caras. Bem no estilo eu escolhi você, sou bandido e ponto. Aí não tem jeito ela se apaixona. Será que as mulheres representam o ideal de amor das suas vidas assim, ou seja, um macho poderoso? Se não é assim saibam que o filme sugere este caminho.
O figurino e os cenários são ótimos, especialmente os carros dos anos 30. Uma curiosidade que se perde no tempo é que os fotógrafos dos jornais para iluminar a cenas noturnas seguravam em suas mãos algo semelhante aos fogos de artifícios.
Em resumo Dillinger respeitava ao povo, tinha princípios, fiel a mulher amada, era contra os banqueiros, inteligente, bonitão, gostava de boa vida e cumpria sua palavra, o que não poderia deixar de acontecer é que fez sucesso até o fim.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Trambique vira casamento.

Victor Zacharias

Foi neste final de semana que assisti o filme "A proposta". É um filme romântico como aquelas famosas histórias impossíveis para a vida real, mas sugeridas como possíveis, afinal os filmes influenciam nos estilos de vida das pessoas como todos outros meios de comunicação.
Este é o tipo do filme "água com açúcar" ou "arroz com feijão", parece que não faz mal a ninguém.
Na agência de notícias ABC News o comentário é sobre a cena em que Sandra Bullock aparece nua pela primeira vez e decidiu fazê-lo com mais de 40 anos. Poucas são as mulheres que ousam exibir os corpinhos publicamente depois desta idade e isso deu tão certo que a caixa postal da Sandra entupiu. Ela declarou que se soubesse que daria tanta repercussão teria feito antes.
A professora de cinema Vivian Sobchack diz que é como se ela desse um novo começo na carreira dizendo eu estou aqui, estou viva, sou viável, tenho sex appeal. Normalmente as mulheres com mais de 40 anos são convidadas para fazer papel de mãe.
O filme começa mostrando a urbana Sandra em casa pedalando aquelas bicicleta de exercícios, olhando para uma tela plasma que reproduzia a natureza. Já se nota que ela é workholic pois nem dava bola para a tela direito estava avaliando um calhamaço de textos. Estilo de vida de quem trabalha 24 horas por dia, apaixonada pelo trabalho. Os detalhes nos filmes fazem toda diferença.
Ela é editora de uma grande empresa de livros e tem um assistente fiel e interessado em ser editor também. O filme propõe uma inversão dos conservadores papéis sociais: chefa e secretário.
Sandra é objetiva e fria. Sua fama no escritório é de bruxa para baixo.
Após esta apresentação surge o problema a ser resolvido no roteiro.
Ela é canadense e não pode trabalhar nos EUA, apesar dos donos da empresa gostarem do seu desempenho, terá que seguir a lei.
A solução para ela ficar é criada na hora por ela mesma para surpresa do seu secretário: casar com ele na base do faz de conta. Ele topa para não ser mandado embora e percebendo seu poder negocia também sua promoção.
Aqui podemos ver que ela diretora de grande prestígio propõe uma saída ilegal, imaginem quantas vezes ela fez isso para chegar onde chegou? O cara também topa e pede um cargo em troca. Mais ilegalidade, o famoso jeitinho americano que, por aqui, tem menos publicidade que o brasileiro.
Bom, para resolver o problema eles tem que pular vários obstáculos e os roteiros são assim para prender a atenção do público: primeiro os donos da empresa, depois o serviço de imigração acostumados com estes trambiques, depois a família dele que é tradicional e mora no Alaska que é bem longe.
Ela tem uma recaída ética, mas ele não afinal eles topavam qualquer negócio para conseguir seus objetivos, no caso dele até enganar a família.
O final de um filme romântico é o de sempre, eles acabam apaixonados,
Não levante quando o filme parecer que acabou, isto é, na hora dos letreiros, pois enquanto eles passam os dois aparecem dando mil explicações para as perguntas malucas do serviço de imigração.
Não foi um conto de Cinderela, porque o cara era rico e ela estava no mesmo padrão, e também que eu saiba a Cinderela não ficou pelada em cena.
Gostei das lindas paisagens do Alaska onde de dia faz sol e a noite também, esta é uma proposta bem comercial, vamos dizer como os técnicos de futebol: para cumprir tabela.

terça-feira, 21 de julho de 2009

O Clube da Luluzinha, ou melhor da Jane Austen (que de Luluzinha não tem nada!)

Isabela Diefenthäler Oliveira

O Clube da Leitura de Jane Austen é um filme muito interessante. Não se parece em nada com os filmes adaptados da autora que estamos acostumados a assistir. Jane Austen é conhecida por entender e conseguir materializar através de seus personagens a alma feminina. Em um universo bastante contemporâneo com muita classe e bom humor o filme consegue ser profundo e abordar temas relevantes.
A história é sobre cinco mulheres e um homem que fazem parte de um grupo de leitura e através desses encontros e muitas vezes desencontros, passam a questionar e entender melhor as mudanças que ocorrem em suas vidas, uma espécie de terapia em grupo onde expõem seus conflitos internos, dilemas e problemas amorosos. Durante a trama é possível se encontrar em muitas das situações vividas pelos personagens e o modo como debatem os assuntos escritos por Austen nos faz querer ler os livros da autora.
O que mais gostei desse filme é que foge daquelas famigeradas comédias românticas, que ao meu ver já estão bem saturadas (eu adoro comédias românticas, mas vocês devem convir que está na hora de inovarem os scripts, não?!) e de um modo irreverente e um tanto despretensioso acaba sendo uma ótima opção.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

O universo feminino é misterioso até para as mulheres.

Victor Zacharias

Monólogos da Vagina - 1996
A autora, atriz e feminista Eve Ensler, americana, entrevistou 200 mulheres no mundo todo de várias idades, raças, preferências sexuais, estado civil, mãe ou não, e inclusive algumas grávidas, o tema era a vagina.
A peça foi levada em mais de 119 países, traduzida em 45 línguas e já foi protagonizada por atrizes como Jane Fonda, Whoopi Goldberg, Susan Sarandon, Oprah Winfrey ou Meryl Streep, e no Brasil Tânia Alves, Fafy Siqueira e Betina Viany.
Ensler depois de todas estas gravações fez vários monólogos para interpretar algumas das histórias e também criar brincadeiras com a exploração de assuntos que pelo seu teor despertam curiosidade.
No começo achei que o roteiro do filme mostraria a performance da atriz nos moldes de uma comédia "stand up", mas depois percebi que não era bem assim, nem tudo era engraçado, existiam histórias tristes.
Por exemplo, ela foi até a Bósnia para saber das mulheres como era a relação delas com a vagina nos casos de estupro e ficou chocada ao saber que mais de 27 mil mulheres eram estupradas naquele lugar, quando voltou para o EUA por curiosidade resolveu perguntar quantas mulheres americanas eram estupradas e para sua surpresa descobriu que estavam documentados mais 700 mil casos por ano
Uma das partes mais divertidas é quando ela começa a citar os apelidos que a vagina tem e inicia uma extensa lista de mais de 30 nomes, as risadas apareciam pela analogia e pela lista interminável.
Ela se surpreendeu de como muitas mulheres ignoravam a vagina e nunca tinham sequer olhado esta parte do corpo, a tocavam somente para higiene, como o caso de uma mulher de 82 que despertada pela entrevista foi a um terapeuta e descobriu o prazer do toque.
Os sons do prazer aparecem quando começa a emitir os mais variados barulhos e lhes dar nomes característicos desde o mais longo da luxúria até um quase sem som da religiosa.
É surpreendente que este assunto seja mostrado publicamente e tenha o destaque e a publicidade que teve, porque até há poucos anos era considerado tabu. Neste sentido a peça abre um novo tempo para o início de mais esta quebra de preconceitos das próprias as mulheres e dos homens.



Como homem gostei de ver e perceber um pouco de como a mulher se relaciona com sua intimidade, mas acredito que as mulheres se identificarão bem mais com as histórias.
Coloco aqui a primeira parte do vídeo é quase um resumo e está em espanhol, assista este começo e se gostar alugue o DVD, acho que valerá a pena.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Boa morte ou eutanásia. Você tem coragem para decidir o dia da sua morte?

Isabela Diefenthäler Oliveira

Um filme que me marcou muito foi o “Mar Adentro”. Não sei se muitas pessoas assistiram esse filme do diretor Alejandro Amenábar, mas ao meu ver o filme é imperdível.
Ramon Sampedro um marinheiro (forte, lindo e viril) fica tetraplégico aos 28 anos quando fazia um mergulho. O filme retrata a trajetória triste desse rapaz, o modo como se relaciona com o mundo, com as pessoas e principalmente com a morte. Conta também a história de duas mulheres que amaram Ramon, primeiro uma jovem com dois filhos e depois uma advogada que o tenta ajudar porque ela também sofre de uma doença degenerativa e acaba o incentivando a publicar os poemas que escreveu durante a vida.
Em alguns momentos é possível ficar extremamente indignado com a vida e a crueldade do mundo. O filme incomoda. Passa uma sensação de impotência. No entanto, funciona como um drama imperdível para quem gosta da vida ou para quem precisar reafirmar sua existência. É uma obra de arte. Denso, pesado e consegue sustentar seu ritmo por possuir diálogos afiados e personagens cativantes, o que nos traz a comoção e a preocupação com o destino dos personagens.
Com uma fotografia maravilhosa “Mar Adentro” aborda questões densas sem apelar ao sentimentalismo barato.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Jean Charles, a esquizofrenia inglesa fica sem punição.

Victor Zacharias
No começo de julho assisti ao filme "Jean Charles", que conta a história do brasileiro, 27 anos, que foi trabalhar em Londres e acabou sendo assassinado, em 22 de julho de 2005, pela polícia inglesa que o confundiu com o terrorista Hussein, aliás eles são bem diferentes como você pode ver.
Sua vida foi retratada em um filme comovente que facilmente produz identificação com quem o assiste, principalmente se for brasileiro.
Confesso que durante o drama vivido pelo brasileiro não acompanhei quase nada na mídia, eu sabia somente o básico da história.
No começo do filme li que era inspirado em acontecimentos reais, mas acho que foi mais que isso, porque em uma entrevista a mãe de Jean disse ter percebido no ator Selton Melo os gestuais do filho. Uma curiosidade é que uma das primas (Patrícia Armani), o patrão de Jean (Maurício Varlotta) e alguns trabalhadores vieram da vida real para o filme, dando mais realidade a produção.
O ponto mais emocionante do filme é quando a polícia conta aos parentes do Jean que ele está morto, aviso para quem for assistir que esta é hora de preparar o lenço.
Além de cenas lindas de Londres, o filme mostra a vida dura dos brasileiros que viajam para ganhar dinheiro na capital inglesa.
O filme é forte e levanta vários pontos para reflexão:
- a esquizofrenia do terrorismo;
- questão da xenofobia;
- o fluxo de imigrantes brasileiros em Londres vindo de Minas, no caso de Jean, da cidade de Gonzaga;
- a liberdade que se tem para viver as experiências pessoais quando se está longe da terra de origem, ou seja, no anonimato, principalmente para quem vem de cidades pequenas como Gonzaga.
O momento do assassinato do brasileiro foi estudado pela produção para que a cena ficasse bem próxima ao que se imagina ter acontecido.
Disse o diretor quando questionado sobre se a produção sofreu algum tipo de censura por parte dos britânicos, Goldman frisou que o longa foi feito com o apoio do governo inglês. "O mesmo governo que deixou que policiais corruptos se safassem no caso permitiu que eu fizesse esse filme", disse.
Em março deste ano o grupo musical Pet Shop (Shock) Boys fez um música em homenagem ao brasileiro o nome da canção é We're All Criminals Now ou "Agora todos somos criminosos".
Neil, um dos autores, disse que o título da canção mostra como a polícia trata os ingleses. Nós estamos todos sendo constantemente vigiados e todos tratados como potencialmente culpados, como se nós tivéssemos cometido algum tipo de crime. Agora nós somos todos criminosos.
Como dá para perceber, não é só no Brasil que a justiça é falha, é comum pensarmos que no país dos outros é muito diferente, mas quase nunca é assim, mesmo nos ditos países de primeiro mundo existem ladrões, assassinatos, fome, pobres, picaretas, corrupção e injustiça também.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

A Índia que não se vê na TV.

Isabela Diefenthäler Oliveira

Acabei de assistir o tão comentado “Quem quer ser um milionário” (Slumdog Millionaire). Fiquei bastante impressionada com a produção do filme, que por sinal, recebeu uma série de premiações.

A história, que mistura a dura vida dos habitantes da periferia de Mumbai com as aspirações cheias de esperança da nova Índia, tem como protagonistas astros completamente desconhecidos do público ocidental e apenas um famoso em sua terra natal.

O jovem indiano muçulmano Jamal se inscreve num programa de perguntas na TV para ganhar 10 milhões de rúpias. Ao longo do programa, o espectador descobre mais sobre a vida de Jamal, sua infância pobre nas favelas de Mumbai (antiga Bombai) junto a seu irmão Salim e a amiga Latika. E o que se vê é mais do que simplesmente uma retrospectiva da vida de Jamal: é a história de uma comunidade inteira, é a regeneração dela através da própria regeneração de Jamal! É o amadurecimento da alma desse rapaz tão profundo, um sobrevivente que realmente sabe as respostas. Aliás, guarde essa frase: ele sabe as respostas.
A cada pergunta feita a ele, Jamal vai buscar a resposta na sua jornada, como um herói das narrativas mais antigas do mundo. Tudo o que ele viveu no passado se transforma em algum tipo de conhecimento ao qual ele atribui significado no momento presente, acionado pelas perguntas do programa e decifrado pelo seu depoimento na delegacia de polícia. Na sua imensa e intensa necessidade de apreender todo e qualquer conhecimento à sua volta, Jamal aguça sua percepção ao longo de sua jovem vida, a princípio para fugir da morte e viver mais um dia. Porém, naquele momento em que está no programa, juntando tudo o que aprendeu, Jamal está no limiar do próximo passo lógico de sua existência: sua regeneração e individuação. E a partir daí começará a realmente viver e usufruir dos frutos de sua coragem, sinceridade e obstinação.

O que achei muito interessante é que o filme mostra uma Índia desconhecida por muitos de nós. Com problemas sociais gravíssimos que na maioria das vezes não são mostrados na novela das 8, onde tudo é bonito, rico e cheio de cores. A Índia mostrada no filme é seca, cinza, cruel. Achei muito marcante no inicio do filme o terror vivido pelos pequenos indianos que eram manipulados por “empresários” para conseguir dinheiro, como marginais. Algo semelhante com o que muitas vezes podemos presenciar no Brasil. Enfim, o filme é muito interessante. Vale a pena ser visto.