segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Na sociedade você tem que se sentir sempre feliz, caso contrário é um perdedor.

Victor Zacharias

Aqueles que se matam não estão querendo morrer e sim uma nova vida.
É assim com Veronika sempre com crises de depressão e os médicos sempre traziam-na dos seus surtos e tudo voltava a ser como antes. Médicos são formados para colocarem o paciente de novo no mundo da busca a felicidade que está nos produtos dos shoppings. Você é obrigado a ser feliz assim: consumindo.
Pronto está posto o problema do filme, fazer Veronika encontrar algo na vida que faça o ato de viver valer a pena.
Intrigante, a mulher é bonita, inteligente, jovem, tem um bom emprego, bons pais, mas não vê sentido nesta fantasia de viver.
O ritual desta vida em sociedade é muito chato e não tem muito sentido. Nascer, crescer, estudar, ter emprego, casar, ter filhos, ser traída, não é nada novo, nunca muda. Este roteiro já é conhecido e não tem graça, tudo muito superficial, pensava Veronika então um dia ela resolve se matar, apesar de tomar uma tonelada das mais variadas pílulas não morre, mesmo sem querer tem uma segunda chance.
Acorda em uma clínica psiquiátrica particular.
Aos poucos vai se adequando aquele mundo a partir da lenda de sua companheira de quarto. Havia um rei e uma rainha que tinham no seu reino um lago e todos que bebiam daquela água ficavam loucos, até que muitos beberam e os reis não aguentavam mais governar pois todos eram doidinhos, para suportar acabaram tomando da água e tudo ficou bem novamente. Um louco é alguém que não compartilha do seu jeito de pensar.
Na tentativa Veronika danificou seu coração, diz o analista e pode, a qualquer hora, morrer. Vive com a chance de morrer bem presente. Na clínica Veronika pouco fala até que o psicanalista chama seus pais. Isto sim era um choque e a fez falar. Os pais não a entendem e nem ela a eles. Ela recusa tudo que eles construíram nela, nada do que eles fizeram considera bom.
Ao tocar piano, Veronika começa a se reconciliar com a vida. Era algo que fazia na infância, uma época gostosa de viver.
Ela finalmente encontra outro desajustado e juntos fogem da clínica, mas Veronika sempre com a chance de morrer bem próxima.
Solução: Ela encontra o sentido no amor que sente pelo outro. Não nas coisas que possuía ou no emprego que tinha, mas no amor do outro.
O filme tem ensaios para discutir o sentido da vida, mas cai na vala comum do romance, propondo que o sentido da vida é amar "eros" alguém que encontrou em um lugar incomum para ambos.
Também leva a crer que no lugar mais estranho pode-se encontrar um amor que dará sentido a vida. Reforça a cultura existente.
Poderia ser um grande filme, com propostas mais audaciosas, mas parece não ter lastro para isso. Enfim sugere questões para serem discutidas durante o cafézinho depois do cinema como por exemplo: Será que a vida é só consumir? Somos escravos de um sistema que nos padroniza desde a beleza até a felicidade? O que você acha?

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Você já levou uma picada de abelha? Eu já!

Isabela Diefenthäler Oliveira

Era uma sexta a tarde e eu estava andando pelas ruas pensando em como passar uma tarde agradável no meu “day off”. Quando eu vi o cartaz do filme, achei tão bonitinho, que não resisti e logo fui comprar meu ingresso.
A Vida Secreta das Abelhas é um filme muito emocionante. Chorei do começo ao fim. E pude notar que ou demais espectadores também não puderam controlar suas lágrimas.
O elenco é ótimo, Alicia Keys, Queen Latifah (adoro ela), Dakota Fanning e outros que não lembro o nome.
A história é de uma menina que aos quatro anos mata a mãe por acidente, triste não?!
Mas isso não é o principal, a história se passa dez anos depois desse episódio, quando a menina, já na adolescência começa a descobrir a arte de se relacionar com as pessoas ao seu redor. Apesar de não falar deles abertamente, o filme retrata muitos valores importantes.
Em um lar distante do seu Lily encontra o amor que muitas vezes lhe faltou em casa, e através das pessoas que a cercam acaba se deparando com o passado de sua falecida mãe e aprende um pouco sobre o fabuloso mundo das abelhas.
É um filme envolvente com certeza. E gostoso de se ver, posso dizer que fiquei tentada a conhecer mais sobre as abelhas. Lembro que quando estava no colégio sempre aprendíamos a falar sobre divisão do trabalho em comunidade através dos exemplos das abelhas...animalzinho interessante esse. Seria muito bom se aprendêssemos mais com ele, vai uma picadinha de abelha hoje?!

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Do mito da fidelidade no casamento até a pedofilia consentida.

Victor Zacharias

O diretor de Cheiro de Ralo, filme que não assisti, é o mesmo que fez este filme À deriva.
O roteiro basicamente mostra as contradições de uma família e a influência que o casal tem na vida da protagonista uma adolescente de 14 anos, a mais velha dos três filhos do casal.
Toda a ação acontece em Búzios lugar que só é identificado por quem conhece ou lê sobre o filme, caso contrário é uma casa numa linda praia.
Uma novidade interessante é que a protagonista foi escolhida pela rede social Orkut, quem sabe você também tenha chance de estrelar um filme participando de uma rede social.
Toda a comunicação e podemos incluir o cinema neste universo, é composta de mensagens construídas, com autor, finalidade e forma. Hoje a comunicação é a cultura que nos é mostrada dia a dia pelos meios de comunicação disponíveis a todos o dia inteiro, nisso está a televisão, rádio, revista, jornal, computador, música e também o cinema. Logo existem nos filmes construções de propostas para estilos de vida e consequentemente modelos para ações e atitudes na vida real de quem está assistindo, eu e você por exemplo.
Neste caso me chamou atenção a hipocrisia que é vivida na família, o mito da fidelidade e a projeção que pai e mãe fazem na vida dos filhos, mas que os introduz no mundo da falsidade. O mundo adulterado ou seja adulto. Lembrei que as projeções da vida perfeita, isto é, o amor civilizado, nos filhos, Freud chama de ideal do EU.
O casal vive uma harmonia de faz de conta na frente dos filhos, mas como a relação estava na fase terminal as brigas começam a evidenciar o problema do juramento "até que a morte os separe".
A filha adolescente tenta fazer várias leituras do que está acontecendo, chega a julgar o pai, a amante do pai, mas nunca a mãe (alcoólatra pelo sofrimento) que permanece santificada, como ela dentro do ideal do EU, seria.
A filme além de mostrar este lado da vida familiar coloca a discussão do amor e do sexo, o mundo apresentado foi o de que todos os homens são predadores sexuais e não importa a idade da fêmea sempre querem satisfazer seus instintos.
A passagem para o mundo adulto acaba acontecendo com a menina de 14 anos, uma menor e incapaz legalmente*, mas o fato é amenizado pois o seu iniciador era o ator Cauã que está dentro dos padrões ideais de beleza física masculina e pela aparente decisão (?) da menina alcoolizada.
Nesta proposta do filme fica a questão do que é pedofilia?
Se o homem a manter relação com ela não fosse este escolhido a dedo será que a platéia reagiria da mesma forma, achando que tudo foi "normal'" ?
Como lidar com os prazeres propostos pelos meios de comunicação ou pela cultura e o dever da fidelidade?
O que ensinar para os filhos sobre a família? Será que eles não percebem a fantasia que vivem os pais?
Acho que são questões que o filme levanta. Vale a pena assistir se a discussão nos fizer refletir a respeito.
*Pessoas menores de 14 anos ou que, por qualquer motivo, não podem oferecer resistência, são caracterizadas como vulneráveis, e o crime de estupro contra estas tem pena maior, que vai de oito a 15 anos.